quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

José João da Silva: "Já é hora de o Marílson me passar"

Uma vitória de Marílson Gomes dos Santos na São Silvestre 2010 dará ao brasiliense o posto de maior vencedor brasileiro da história da fase internacional da disputa, com três títulos. Com isto, ele deixaria para trás outros dois grandes nomes da história da corrida, Sebastião Alves Monteiro, vencedor em 1945 e 1946, e José João da Silva, que triunfou em 1980 e 1983.

Amigo de Marílson e do técnico Adauto Domingues, José João não se importa em ser ultrapassado. "Será um orgulho abraçar o Marílson depois da vitória. Já é hora de ele me passar, esse tabu tem quase 30 anos", comenta o ex-corredor. "O Marílson tem todas as condições de ganhar. Ele e o Adauto merecem isso", afirma.

SÓ COMENTÁRIOS AGORA

Apesar de todo o conhecimento, José João não se arrisca mais a correr a São Silvestre. Atualmente, ele prefere trabalhar como comentarista da prova. "Só fico agora na cadeira de honra. É um luxo!", gargalha.

"Presto melhor agora este serviço de comentarista", garante o bicampeão, que aos 55 anos ainda se arrisca a participar de algumas provas por aí. O resultado está na boa saúde e no corpo totalmente em forma.

Às vésperas da 86ª edição da São Silvestre, o pernambucano admira a coragem de Marílson assumir que chega para ganhar na sexta-feira. "Eu não falaria isso nunca. É bem mais fácil correr sem falar", acredita.

Para José João, porém, o fato de Marílson ter disputado a Maratona de Nova York em 7 de novembro pode atrapalhar - na ocasião, o brasileiro não conseguiu garantir seu terceiro título nos Estados Unidos e teve que se contentar com o sétimo lugar.

"Isso pesa muito porque a primeira parte da São Silvestre é muito difícil. Se a musculatura não está adaptada para o trecho veloz da descida Consolação, ele pode sentir. E o Marílson não foi a Nova York para brincar, mas sim para ganhar e pode ser que ainda não esteja totalmente recuperado", destacou o experiente José João, que minimiza até as próprias declarações do brasiliense, que assumiu o favoritismo para a prova do último dia do ano. "A São Silvestre é uma priva dura e que engana: você acha que está bem, mas não está", destaca.

Para ele, o bom desempenho de Marílson este mês na prova Sargento Gonzaguinha, também de 15 quilômetros em São Paulo, não pode ser levado em consideração, mesmo com a vitória quase dois minutos à frente do segundo colocado. "São provas totalmente diferentes: enquanto a Gonzaguinha é plana, a São Silvestre está sempre subindo ou descendo", justifica.

Por outro lado, na avaliação de José João, a volta de Marílson à tradicional prova após quatro anos pode beneficiar outro brasileiro, Franck Caldeira. Último brasileiro a triunfar, em 2006, o mineiro sentiu a pressão de ser a grande estrela nacional da prova desde então e abandonou em 2007 e 2008, além de ter chegado apenas em 23º no ano passado. "Ele é o tipo da zebra que dá conta do recado", analisa José João.

Carolina CanossaSão Paulo (SP)